Pular para o conteúdo principal

Culinária e automobilismo: paixões italianas


Modena é a cidade da Itália mundialmente conhecida pelo automobilismo, e nos últimos anos, por ser a casa da Osteria Francescana, considerado o melhor restaurante do mundo, tendo à frente o chef Massimo Bottura. Lógico, que foi ele,  depois de inúmeras tentativas de reservas, nos vez ir até lá, mas antes de escrever sobre essa experiência gastronômica, aproveitamos a viagem para conhecer um pouco mais da cidade e seus arredores.

Nossa primeira parada foi a fazenda Hombre, que produz o Parmigiano Reggiano de forma completamente orgânica e abastece o famoso restaurante da cidade e tantos outros espalhados pelo mundo. A visita deve ser marcada com antecedência e que nos acompanhou foi o proprietário Marco Panini, filho do fundador Umberto – se você se lembra deste sobrenome por causa dos álbuns de figurinhas, não é mera coincidência. É a mesma família atuando em diversos ramos de negócio, inclusive de carros. Além de acompanhar a produção do queijo, é possível visitar o Panini Motor Museum, com uma coleção invejável de Masseratis, unindo as duas maiores paixões italianas: comida e velocidade.

Para se ter uma ideia da exclusividade do queijo produzido lá, a Itália possui 450 produtores de parmigiano e somente 4% deles são 100% orgânicos. A principal matéria-prima, o leite, é retiradas das vacas diariamente. Os animais – cerca de 250 - só se alimentam de alfafa, cereais e legumes o que aumenta ainda mais a qualidade do leite ordenado. O ordenamento é feito duas vezes ao dia: à noite e pela manhã. Aquele que passou a noite “descansando”, às 4 da manhã, é retirada a gordura da qual se usa para se fazer a manteiga e se mistura mais leite e assim se faz uma base levemente gordurosa . Coloca-se, então, uma enzima para o leite talhar. Após o manuseio do queijeiro,  o queijo vai para a primeira forma e fica um dia.  No segundo dia, é hora de receber a faixa. No terceiro dia, os queijos  vão para um porão e são envoltos com um salmoura de água e sal onde ficam por três semanas.


Depois de devidamente tratado e já em processo de transformação, o queijo fica armazenado em um grande galpão e é consumido pele menos, um ano depois. Para levar o selo de DOP, um especialista do consórcio de fabricantes de Parmigiano faz o exame do “toque”: batendo levemente na casca, percebe se chegou o ponto de maturação e carimba o produto que a parir daí está pronto para o consumo e venda. Na lojinha, dá para experimentar essa delícia in loco e ainda comprar ricota e manteiga também produzidas por lá.

Depois desta aula gastronômica, caminha-se para um galpão localizado logo após a sede da fazenda.  Neste inusitado local, estão armazenados mais de 100 máquinas  sendo 19 delas originais de uma leilão que levariam os veículos para a Inglaterra, após o fechamento da fábrica italiana. No primeiro andar, estão expostos motos e bicicletas datadas do início do século XX. Um passeio pela história e pela paixão de Umberto que iniciou este processo após retornar da Venezuela para sua cidade natal e funda a fazenda na qual deu o nome que era conhecido na América Latina, Hombre.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pantalica: um cemitério incrustado em rochas

Visitar cemitérios faz parte de alguns roteiros turísticos como o Pere Lachaise em Paris que tem túmulos de pessoas famosas como Honoré de Balzac,  Maria Callas, Frédéric Chopin, Eugène Delacroix, Molière, Yves Montand, Jim Morrison e  Edith Piaf. Agora imagina um com mais de 5.000 tumbas datadas dos Séculos XIII ao VII a.C? Claro que não sabemos quem foi enterrado por lá, mas é uma passeio pelo pré-história visitar a Necrópole Rochosa de Pantalica. O nome deriva do grego πάνταλίθος = lugar das pedras ou do árabe buntarigah = lugar das cavernas, mostrando mais uma vez as influências na Sicília. Pantalica está localizada em um platô envolto por cânions formado pelos rios Anapo e Calcinara. Chegando lá dá para escolher duas trilhas distintas: uma mais longa e outra um pouco mais acessível. Pela Vale Anapo, a trilha tem cerca de 10km na antiga rota entre Siracusa e Vizzini.  A outra é ser feita pela Sella di Filiporto, começando da região de Ferla ou, pelo outro lado, em Sortino, que lev

Segesta: esta é a vez da cultura grega ou do engana que eu gosto

A parada em Segesta consiste em conhecer o seu sítio arqueológico com vários monumentos ainda preservados. Os dois maiores são: o Monte Bárbaro com um castelo e teatro e o Templo.  Segesta teria sido fundada pelos sobreviventes da guerra de Troia, comandados por Eneas: antes de chegar em Roma, ele teria deixado uma grande colonia de cidadãos e seu próprio pai. Na Antiguidade Segesta permaneceu em perene conflito com Selinunte e se tornou uma cidade livre apenas com a chegada dos romanos. O templo é enorme e dá para se avistar de longe na estrada. A sua estrutura é levemente diferente dos templos gregos canônicos. É considerado de arquitetura dórica pois possui seis colunas na frente e catorze nas laterais, com um frontão em forma de triângulo. Sem uma estrutura interna e a sua presença em uma cidade não grega gera muita polêmica entre os estudiosos. Muitas aceitam a versão de obra inacabada. Outros acham que a intenção era mesmo o culto aso deuses gregos. Uma terceira versão, é que os

Positano: porquê o mundo é assim?

Falando em tecnologia e arquitetura, ao chegar em Positano e ver aquele lugar realmente especial e lindo construído sobre um morro me perguntei o tempo todo: porquê com a mesma geografia, o mesmo homem pode criar uma cidade como aquela e ao mesmo tempo as favelas no Rio de Janeiro? O que faz termos nas mesmas condições de terreno, soluções tão diferentes? Talvez seja o frio. Mas Positano está na Costiera Almafitana, na Campania, onde nem é tão frio. O tamanho pode ser a desculpa. A cidade italiana tem 8 km, bem maior que o Pavão-Pavãozinho que vejo da minha janela. Construída entre os séculos 16 e 17,  foi habitada por australianos e era até um povoado pobre até ser descoberta como ponto turístico e cenários de filmes como "Only you", "Sob o sol da Toscana", " O talentoso Mr. Ripley". Aqui, tudo é mais sem cor,  sem charme e o que aparece no cinema, são as cenas de violência. Deveríamos importar esse tipo de cultura e pensamento. Uma dica: ao chegar de car